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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Sobre ele, o que então escrevi continua perfeitamente actual. Esta é uma marca que distingue os únicos, os irrepetíveis: o que ontem escrevemos permanece perene ao longo da sua vida, e mesmo depois da sua partida. O engano nunca acontece.
Os elogios deixo-os para os outros. Se Madiba nunca os apreciou em vida não irá apreciá-los depois da morte.
Prefiro reservar cinco minutos do meu tempo para olhar para a sua fotografia. Para recordar o seu legado, a força penetrante do seu olhar, das suas palavras, a serenidade do gesto.
Mais do que a luta, a prisão, a resistência, a lição que ficará e que marcou a diferença em qualquer latitude foi o modo como exerceu o poder, como soube libertar-se do espartilho do partido e colocar-se acima dele, dos seus grupos e facções, como usou a tolerância e a temperança na construção da unidade nacional, na procura da decência. E até na sua vida privada foi capaz de estabelecer, num país minado pela diferença, pela violência sem sentido e pela corrupção, a fronteira entre o ser e o dever, entre o ser e o parecer. Sem equívocos.
Nunca o verso de Pessoa, já recordado pelo meu amigo Fernando Moura Santos, teve mais sentido: "Morrer é apenas não ser visto". Quanto ao resto fica cá tudo.