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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
O Público revela na sua edição de hoje alguns pormenores a propósito do convite e da recusa de Rui Rio em assumir a liderança do Banco de Fomento.
Fazendo fé no que ali se conta, e não há razões que me levem a duvidar da seriedade do relato ou acrescento de qualquer ponto, o episódio confirma em absoluto tudo o que eu pensava antes de quem convidou e de quem recusou. E, mais do que isso, demonstra como é fácil a estupidez cruzar-se com a inteligência mantendo-se tudo na mesma.
Desconheço se o ex-presidente da Câmara Municipal do Porto leu Mazarin e o que este escreveu em 1684 no seu "Breviarium Politicorum". Se não leu indicia todas as qualidades que poderão um dia, se lhe derem o privilégio de umas primárias, vir a ocupar à frente do PSD o lugar que espera António Costa no PS logo que lhe desimpeçam a loja.
Mesmo quem não goste, ou não morra de amores por Rio, desde que conhecesse o seu percurso e estivesse atento à forma como gere as suas intervenções públicas e os tempos em que as faz, dificilmente acreditaria que fosse homem para aceitar liderar neste momento uma instituição - com a importância que nunca terá - como o novel Banco de Fomento. Em especial com o peso político que significa para o actual primeiro-ministro. Menos ainda se o convite formulado por Passos Coelho trazia consigo, como foi o caso, a inacreditável escolha antecipada da equipa que se queria que Rui Rio dirigisse.
Nenhum homem decente, inteligente e sensato q.b. aceitaria, por muito ambicioso ou tributário que fosse ao convidante, ser colocado à frente de uma entidade como o tal Banco tendo de engolir todos os "Franquelins" que lhe fossem impingidos.
O lastro de confusões, demissões, golpadas, convites, "desconvintes" e cegadas várias em que o primeiro-ministro, ou os seus homens de confiança por ele, se tem envolvido desde Junho de 2011, bastariam para obrigar o mais desprevenido a pensar duas vezes antes de, numa altura destas, aceitar meter-se numa embarcação, em mar revolto, sabendo que o almirante que escolheu a tripulação não distingue bombordo de estibordo, é atreito a levantamentos de rancho entre a sua gente, confunde proa com popa e na embarcação que ele próprio dirige já viu a maioria dos seus tripulantes enjoar na ponte, enquanto os sobrantes e os passageiros que foram obrigados a seguir viagem, quase todos velhos, doentes e reformados, se atropelam para ver quem primeiro se atira borda fora na esperança de serem recolhidos por alguém que passe ao largo e lhes atire uma bóia e uma lata de sardinhas.
Uma das coisas que Mazarin aconselhava a um político era que se tivesse de responder negativamente a um pedido fingisse que precisava de reflectir. E que depois se mostrasse sinceramente desolado por não poder atendê-lo. Desconfio que Rio, mesmo que não tenha lido a obra que me veio à memória, nunca precisaria de recorrer a um grau tão grande de perfídia e hipocrisia para recusar o convite. Bastar-lhe-ia ser coerente, como parece ter sido.
Aquilo que para qualquer um de nós seria uma evidência, como o resultado da imposição de uma cura de emagrecimento em quem já dava sinais de subnutrição, não o foi para Passos Coelho.
Pessoalmente estou convencido, no que até Pedro Lomba ou Poiares Maduro num momento de lucidez serão capazes de admitir, que de mais este triste episódio sai um Rio de caudal reforçado que ameaça galgar as margens a qualquer momento, correndo ainda mais violento para a sua foz.
Quanto a Passos Coelho, que neste desgraçado filme comprido e chato faz papel de marujo arvorado, fica a eliminação das dúvidas que restassem sobre a preparação política que recebeu. Ou seja, confirma-se que politicamente possui a preparação de um tarimbado servente de S. Bento. A grande diferença é que este, ainda que convidado para universidades de Verão e convivendo com professores doutores, não aspira ser primeiro-ministro. Nem sequer quando com um grão na asa adormece destapado e virado para a esquerda. Um néscio político não faria pior. Bastar-lhe-ia ir ao calendário e ver que o Primeiro de Dezembro estava à porta e gritar a plenos pulmões: Viva Portugal!