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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Mantém a áurea de sempre. A nobreza, o estilo, que fizeram dele uma lenda e uma jóia, até encerrar portas em Março de 1999. Naquele varanda passei muitas vezes para tomar o meu gin tónico e apreciar os calmos e pachorrentos fins de tarde na Praia Grande. Enquanto pensava na cidade, nas suas gentes, no que seria o futuro de Macau e de Portugal na Ásia. Não raras vezes a tarde prolongava-se pela noite e ficava para jantar. Fumava o meu charuto. Quer antes quer depois da intervenção que recuperou o edifício, acrescentando gosto e elevação a uma construção que sempre respirou o tempo como parte da usa essência. Os tempos mudaram. A baía já não existe. Agora são os lagos Nam Van, a torre, os néons do Nape e da Taipa que dominam a paisagem. Em vez de tornedó e Confradeiro 1995, comem-se salgadinhos e bebe-se rosé nacional. E a T. não está cá. Apesar disso, a hospitalidade e o conforto permanecem. O anfitrião é que é outro. E não é Nobre de Carvalho nem Martins Soares, embora seja igualmente acolhedor e também more logo ali por baixo, naquela que foi a residência do capitão dos portos, a estupenda fortaleza do Bom Parto, hoje residência consular.
Não sei se ainda haverá misses que jantem na fortaleza. A gente é outra. E por aqui a fealdade dá-se por satisfeita com o "Grand Lisboa". Mas qualquer que seja o inquilino espero que seja suficientemente inteligente para não transformar aquilo numa mercearia, numa filial de um qualquer partido ou numa mostra de vaidades.
O poder é efémero. E nos dias que correm desacredita-se por si. As nações, como o tempo, a boa diplomacia, o Bela Vista, a fortaleza do Bom Parto ou Macau, serão sempre eternas. Ainda bem.