Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Se Maio é o mês da França, Junho é, desde há alguns anos, o mês de Portugal em Macau e Hong Kong. Uma feliz iniciativa, primeiro em jeito de experiência, que acabou por se consolidar e tornar-se num evento anual.
Há um programa estruturado de manifestações, aproveitando-se essa coincidência do calendário gregoriano juntar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Dez de Junho, com as festividades dos Santos Populares num curto período de trinta dias, que nos transporta da história à gastronomia, à língua, à literatura, à história, à música, à pintura, à fotografia, à arte e à cultura em geral.
Divulgando-se Portugal, aproxima-se o país de outras comunidades, estimula-se o debate, promove-se o conhecimento, ajudando-se à renovação e à troca de ideias, à partilha de experiências, conhecimentos e projectos, em particular numa região e numa pequena comunidade em que a discussão está cada vez mais ausente, a intervenção social e cívica é reduzida, pouco participada e, ultimamente, temida pelas consequências que pode acarretar, social e profissionalmente, sujeitando a nossa rica e saudável multiplicidade lusíada a cingir-se e acomodar-se à pequenez dos interesses mais imediatos, ao cinzentismo medíocre da intriga e da conformação bolorenta e interesseira ao quotidiano, aos interesses económicos e à satisfação de egoísmos circunstanciais.
Daí que seja de saudar o início do ciclo de “Conversas no Consulado” com a participação esclarecida, livre, arejada e sempre desempoeirada da Professora Elisa Ferreira, assim se aproveitando a sua presença em Macau no âmbito de um programa universitário do Instituto de Estudos Europeus.
A sua intervenção, passando brevemente em revista o Portugal dos últimos cinquenta anos, dos sucessos democráticos às encruzilhadas do presente, olhando para os números, para as nossas relações internacionais e desafios que se colocam ao país, interna e externamente, foi uma pequena oportunidade para nos voltar a fazer pensar e discutir Portugal em português, numa sessão que se prolongou por mais de duas horas e em que ninguém deu o seu tempo por desperdiçado.
Com um currículo notável qualquer que seja o prisma de análise, Elisa Ferreira, para além das suas qualidades pessoais e académicas, constitui uma das poucas mais-valias que o país possui numa cada vez menos qualificada e menos competente elite política. Economista pela Universidade do Porto, doutorada por Reading, professora universitária, deputada, parlamentar europeia, ministra por duas vezes em pastas exigentes, administradora e vice-governadora do Banco de Portugal, tendo sido Comissária Europeia para a Coesão e Reforma entre 2019 e 2024. Currículo não lhe falta e não precisa de ser inventado à última hora.
Numa altura em que tanto se fala da ausência de candidatos presidenciais credíveis, que saibam falar português e consigam transmitir as suas ideias numa linguagem clara e acessível, sem uma postura paternalista e que possuam formação académica de nível, experiência profissional qualificada, com intervenção política e governativa competente e reconhecida, dentro e fora do país, Elisa Ferreira é uma pessoa conhecedora da Constituição, das leis e das instituições que nos regem.
É capaz de falar sem teleponto, e, em especial, possui um pensamento estruturado, ideias claras e arrumadas, consequentes, informadas, sensibilidade social e política, e uma visão civilizada, moderna, europeia, equilibrada e actual de Portugal e do mundo. E sendo uma independente, estou certo de que a Professora Elisa Ferreira daria uma excelente candidata presidencial.
Se a isso juntarmos o facto de ser mulher e mãe, ter uma visão distante do centralismo tecnocrático, burocrático e bafiento do país misógino e subserviente de um passado que alguns querem à viva força recuperar, não lhe faltam qualidades que a recomendem para ser a mais alta magistrada da nação.
Uma candidatura de Elisa Ferreira à Presidência da República seria uma lufada de ar fresco em Belém, uma esperança renovada para Portugal e os portugueses.
Oxalá que ela possa reflectir sobre isso, esteja disponível para prestar mais esse serviço ao País, e haja quem seja capaz de convencê-la.
(créditos: DN/MAI)
O apuramento final dos resultados das eleições legislativas de 18 de Maio, que ontem se concluiu com a divulgação das escolhas dos eleitores nos círculos da Europa e de Fora da Europa, acaba, de certa forma, por lançar novo alerta aos partidos políticos tradicionais, à classe política em geral, e por confirmar o veredicto ditado pelas urnas em quase todo o país.
Embora com menos 4313 votos, com a vitória nos círculos da emigração, o Chega ultrapassou o Partido Socialista (PS) em deputados e será em S. Bento o partido líder da oposição. Não apenas à maioria circunstancial e transitória da AD, mas também ao regime político saído da Constituição de 1976 e a que desde sempre firmemente se opusera.
Quanto ao "sistema", todos perceberam que o Chega já entrou para o seu lado de dentro e conseguiu aceder aos generosos fundos públicos disponibilizados pelos impostos dos portugueses a todos os partidos. O Chega pode consolidar a partir de hoje a profissionalização dos seus quadros, ainda que possa dizer que não o vai fazer, e receberá os mesmos milhões de euros que os partidos políticos por si tão criticados sempre receberam dos contribuintes.
O resultado obtido nos círculos da Europa e de fora da Europa, ao remeter a AD e a aliança PSD/CDS-PP para o segundo lugar aponta o enorme falhanço do discurso montenegrista junto dessas comunidades de portugueses. E destaca a perfeita nódoa que foi a acção de José Cesário e da sua equipa, não obstante as múltiplas, frequentes e na maior parte das vezes inexplicáveis, deslocações que realizou ao estrangeiro para fazer as habituais promessas e segurar o eleitorado potencial da coligação nas suas homilias para analfabetos, sacristãos e defuntos. De nada serviram as cartas enviadas para casa dos eleitores residentes no estrangeiro. E seria bom apurar o número de viagens que Cesário efectuou em menos de doze meses, detalhando-se as que fez já depois do chumbo da moção de confiança, quanto custaram – incluindo as suas ajudas de custo – e que resultados deram, quando se verifica um aumento dos abstencionistas – em 2024 votaram 6.473.789 portugueses, em 2025 apenas 6.317.949, apesar do número de eleitores inscritos ter aumentado em 31.989 – e o número de votos nulos, apesar de ligeira diminuição, continua bastante elevado (172.379 quando o ano passado foi de 189.676).
Em relação aos votos nulos importa referir que a preocupação manifestada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que se mostrou alarmada com o facto de nalgumas mesas o seu número ser superior a 40%, é comportamento que revela muita hipocrisia. A CNE estava mais do que alertada para essa situação, a que eu próprio me referi em artigo publicado em 2022. E nem essa entidade nem os Governos de António Costa e Luís Montenegro, este com menos responsabilidades atento o curto período em que esteve em funções, fizeram alguma coisa que permitisse acautelar a repetição do sucedido.
Confirmado que está o reforço substancial da votação no Chega, a vitória de Luís Montenegro, e o reforço da direita parlamentar, torna-se ainda mais evidente o descalabro eleitoral do PS de Pedro Nuno Santos.
Porém, quanto a este convém referir que não está sozinho no afundamento. Nunca será de mais dizê-lo. O líder era mau, mas os que o acompanharam não são melhores. Aquele rebanho de dirigentes oportunistas do PS que salta de secretário-geral em secretário-geral e a todos apoia, por mais diferentes que sejam, transborda de incompetência e desligamento da realidade, retirando qualquer sentido aos apelos pungentes que vêm tarde e a más horas fazer à reflexão. Reflectissem antes, dessem ouvidos a quem queria bem ao PS e ao país.
Todos os barões e baronesas do Largo do Rato que há ano e meio entronizaram, com fanfarra e foguetes, o líder demissionário para comandar uma embarcação que já então vogava à deriva num mar encapelado, e que prenunciava os trambolhões nas vagas que levaram à inundação da casa das máquinas, varreram o convés, entrando pelos camarotes, e atiraram à água o infeliz e tonitruante capitão barbudo, deviam ser corridos.
Todo o Secretariado Nacional e os membros da Comissão Nacional do PS que teceram loas à liderança e assinaram de cruz para garantirem algum protagonismo nas filas da frente são responsáveis. Ninguém sai ileso, embora agora haja uns e umas com menos vergonha na cara e que venham dizer depois da tragédia acontecer que aconselharam o ex-secretário-geral a deixar passar o voto de confiança pedido por Luís Montenegro. Houve mesmo quem tivesse o desplante, em vez de ficar caladinha, de dizer numa entrevista que travou a sua candidatura à liderança do partido para não prejudicar o PS nas autárquicas. Um destes dias ainda vêm dizer que Pedro Nuno Santos chegou sozinho à liderança e que nunca nenhum deles o apoiou. Enfim, é lá com eles.
Seria sim conveniente que em Portugal, que é o que verdadeiramente nos interessa, se começasse por arrumar a casa, fosse rapidamente dada posse a um novo Governo, nas ideias e nas pessoas, removendo-se os emplastros do último, e as coisas voltassem à normalidade. A começar nos aeroportos. O caos que aí se tem vivido também tem responsáveis.
Quanto ao resto, isto é, a democracia, se tiverem juízo e não andarem a perder tempo a rever com todo o folclore o preâmbulo da Constituição, equiparando-se aos dirigentes e às preocupações do Partido Comunista Chinês, como se daí dependesse o futuro da nação, o desenvolvimento do país e a alegria do povo, acabará por se reformar, continuando a acolher todos os que nela se revêem, incluindo aqueles portugueses incógnitos que nas urnas se manifestaram contra a paz podre do regime político, castigando as suas medíocres elites e as aberrações de um sistema eleitoral que teima em não se reformar e prefere continuar a afastar-se dos eleitores, empobrecendo a participação e a responsabilização individual e colectiva.
(créditos: Forbes, DPA/PICTURE ALLIANCE VIA GETTY IMAGES)
O problema não é novo e não se me afigura de fácil resolução.
Não há muito tempo, um artigo do Vítor Rebelo, deu-nos conta de que a Escola Portuguesa de Macau realizou um inquérito junto dos encarregados de educação no sentido de apurar qual a posição destes sobre a eventual imposição de restrições ao uso de telemóveis no interior do estabelecimento de ensino e durante os períodos escolares, sem prejuízo da sua utilização "em situações de emergência, actividades pedagógicas por indicação do professor, ou para permitir o acesso a recursos educativos e ferramentas online facilitadoras da aprendizagem". A ressalva é importante, mas não é tudo.
Depois disso, em Março, saíram notícias vindas da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude de Macau sobre a vontade de se impor um "conjunto de orientações sobre o uso de telemóveis para alunos de escolas do ensino não superior". pareceu-me bem.
E quanto a este ponto, o presidente da Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (EPM), Filipe Figueiredo, manifestou a concordância da associação a que preside quanto à introdução dessas restrições, salientando, com razão, as perturbações ao comportamento das crianças e jovens que a influência e a dependência daqueles equipamentos tem causado.
Recorde-se que, em 2023, a UNESCO recomendara que fossem banidos os telemóveis (smartphones) das escolas por constituírem uma distracção à aprendizagem.
Concordar-se-á, facilmente, que há impactos positivos, mas também alguns muito perniciosos, ao uso frequente, desregrado, incontrolado de equipamentos electrónicos. E não apenas por parte dos mais novos. O mesmo se diga quanto às ferramentas de Inteligência Artificial (IA).
Ontem, o The Guardian deu-nos a notícia de que na Estónia, considerado uma dos países mais avançados do mundo em matéria de Educação e que obteve resultados muito bons na última ronda do PISA, em 2022, ocupando os seus estudantes o primeiro lugar em Matemática, Ciências e Pensamento Criativo, e o segundo em Leitura, se lançou um programa nacional designado "AI Leap" destinado a dotar os seus alunos e professores de ferramentas e qualificações de nível mundial em matéria de IA, programa esse que começará em Setembro. Desse modo se investirá na preparação tecnológica dos professores, enfatizando-se um modelo de aprendizagem autónomo, suportado numa ética digital, de maneira a que se dê "prioridade à equidade educativa e à literacia em IA".
A ministra da Educação e Tecnologia da Estónia enalteceu o uso desses equipamentos, referindo que no seu país o direito de voto é exercido a partir dos 16 anos, que o exercício desse direito é estimulado para que ser feito online, recorrendo-se aos telemóveis, e acrescentando que isso contribui para a participação cívica e eleitoral, a obtenção de informação e a análise de plataformas políticas, não fazendo sentido a imposição de restrições, que transmitiriam uma ideia contraditória.
O sucesso do uso dos telemóveis, e dos resultados obtidos por aquele país, estará antes num conjunto de regras direccionadas a crianças com menos de 12 ou 13 anos, quanto ao modo como esses equipamentos deverão ser utilizados, cabendo depois às escolas a regulação do seu uso durante os intervalos e nas aulas, sempre que o professor considere que devem ser usados como auxiliares na realização de trabalhos escolares.
Segundo Kristina Kallas, o desafio está em saber se somos capazes de evoluir no sentido de nos tornamos criaturas de pensamento mais rápido e de nível mais elevado, ou se vamos deixar que seja a tecnologia a apoderar-se da nossa consciência.
A solução não é fácil. Continua a haver todo um debate por fazer.
A solução da proibição é a mais fácil, a mais imediata. Mas, pergunto eu, será que com a proibição se garante o sucesso?
Há que encontrar as soluções mais adequadas ao momento e procurar ir adaptando-as à medida que vamos conhecendo um pouco melhor os desafios que se nos colocam, as exigências e as consequências do uso, imoderado ou regrado, desses equipamentos e da IA.
Uma coisa é certa: não podemos permitir que seja a IA a decidir por nós. Nem ficar num grau tal de dependência que a nossa autonomia seja colocada em risco. No dia em que isso acontecer será o fim da nossa espécie enquanto seres pensantes, dotados de razão e independência.
No fundo, o que está aqui em causa é saber se seremos capazes de continuar a evoluir não perdendo razão nem autonomia. Isto é, se continuamos a ser livres ou se vamos perder essa liberdade em favor das máquinas e de quem as domina.
A escolha será decisiva e voltará a ser, não há que fugir, entre a liberdade e a tirania.
Uma pessoa abre os jornais, ouve os noticiários da rádio e da televisão e não há dia que não seja bombardeada com estatística sobre os números de pessoas que entram e saem de Macau. Dir-se-ia que há uma contínua insistência na mesma tecla.
Há duas maneiras de olhar para a insistência; que por vezes também é resistência.
Se, por um lado, a insistência pode ser uma virtude, por outro também admite ser vista como um erro.
Ali, tem-se a tentativa de correcção, de aperfeiçoamento, de ultrapassem de obstáculos, criando soluções para os problemas, acrescentando valor ao esforço, procurando melhorar os resultados. No segundo caso, a insistência é a aposta permanente nas mesmas receitas que já se mostraram discutíveis, inadequadas, erradas, ultrapassadas e que em nada contribuem para uma melhoria dos padrões, um aumento de qualidade, uma progressão positiva.
A aposta no turismo de massas por parte das autoridades de Macau é cada vez mais um mau exemplo de gestão, de insistência no erro, de persistência no empobrecimento do sector, de aposta na mediocridade. Não é qualidade, é defeito.
Mas vamos aos exemplos para que melhor se perceba.
Em 19 de Maio pp., uma noticia do Ponto Final, com base num despacho da Agência LUSA, referia "o consumo médio de cada visitante caiu 13,2% no primeiro trimestre do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado". A explicação, diz-se, estará no aumento do número de excursionistas que passaram de 54% para 59%.
O Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, lê-se na mesma notícia, alertou para a circunstância de Macau ter cada mais "turistas", sublinhando que "o nível de consumo está a baixar". Já todos os residentes se aperceberam há muito tempo. Será isto normal numa cidade que reclama ser um "Centro Mundial de Turismo e Lazer", pergunta-se?
Este mês, a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos assinalou uma descida do padrão de consumo dos visitantes. O PIB pela primeira vez diminuiu desde o final da pandemia, em 2022, e os benefícios do sector turístico caíram 3,8% neste mesmo primeiro trimestre de 2025. Repito a pergunta: Será isto normal?
Hoje, 22 de Maio, o Ponto Final e o Macau Daily Times assinalam que só em Abril houve um aumento do número de visitantes de 18,9%. Nos primeiros quatro meses significaram mais 12,9% do que no ano anterior.
A estes dados acrescentem-se mais dois.
As vendas a retalho caíram 15% nos primeiros quatro meses, com os gastos em actividades não-jogo a descerem 3,6%, prevendo os economistas um aumento das rendas habitacionais.
A satisfação estatística da DST e da TDM decorrente do contínuo fluxo de "turistas" não traz nada de positivo a Macau. São cada vez mais, gastam cada vez menos, e não é por serem mais que o volume final de receita cresce. Bem pelo contrário.
A segunda nota de registo vem, invariavelmente, da cambada dos táxis: "as irregularidades praticadas por taxistas registaram, nos primeiros quatro meses deste ano, uma subida a pique", o que corresponde a um aumento de 187% no número de infracções.
O aumento de infracções dos taxistas é pornográfica. E isto numa terra onde esse cancro da actividade económica e dos transportes está identificado. A carência de táxis, a má condução, a falta de oferta de veículos, ausência de educação e impreparação dos motoristas começa a ser lendária e internacionalmente conhecida.
Ainda há dias em Jacarta, por comparação, numa cidade cuja área metropolitana é de mais de 30 milhões de pessoas, pude utilizar os seus serviços de transportes urbanos, autocarros e táxis, de diversos operadores, incluindo Grab, Blue Bird, Silver Bird, sem qualquer problema ou o mais leve incidente, em percurso curtos e longos, de e para a cidade e dentro dela, sempre com taxímetro, sem dificuldades de chamada, com motoristas educados, simpáticos, prestáveis, falando inglês e sem tentativas de extorsão.
Aquilo que é cada vez mais uma evidência é que as políticas que há anos vêm sendo seguidas pelo Governo de Macau e o seus departamentos de turismo e transportes são um desastre. Não acrescentam valor, inflacionam os preços, congestionam as ruas e as estradas, aumentam o grau de poluição urbana e contribuem para a degradação da qualidade do ambiente para os residentes. Aos anteriores Chefes do Executivo muito se deve da lástima de serviços e miríade de problemas que o actual CE herdou.
Importaria por isso que a aposta hoje fosse não num aumento puro e simples, contínuo, desregrado e idiota do número de pessoas que entram e saem, sozinhas ou em excursão. É preciso fazer uma volta de 180 graus nas políticas até aqui vigentes nestas áreas. E apostar numa substancial melhoria dos padrões sociais, culturais, de riqueza e de consumo de quem nos visita.
E ao mesmo tempo acabar com os bandos que operam no sector dos transportes, impondo-lhes, se necessário com medidas de polícia, a obrigação de um serviço de táxis decente e competitivo. Aqui seria ainda preciso acabar com o preconceito e os oligopólios. Permitir a concorrência de empresas estrangeiras do sector, como se faz com os casinos, e acabarmos com o proteccionismo interno de cariz trumpista em que há décadas vivemos e que só serve aos mandarins locais. Se não for assim ainda voltaremos ao tempo dos riquexós.
Os principais responsáveis pelo descalabro eleitoral do PS e pelo buraco em que hoje se encontra, devido em particular aos apoios que foram sempre dando a quem está no poder, para assim irem fazendo prova de vida e garantirem que continuavam a ter algum protagonismo na sua irrelevância, começaram logo a aparecer. Bastaram 24 horas.
O sábio Santos Silva, que foi saltando de direcção em direcção, um dos principais rostos do buraco em que o PS está, veio dizer que está muito preocupado e quer uma direcção com uma marca de colegialidade grande, certamente para que o atoleiro continue e o partido prossiga o chafurdar na lama.
O filósofo Assis, que nestas ocasiões e na hora de formar listas protege a sua pretensa frontalidade sempre atrás de um discurso viscoso, que a mim me causa muitas comichões, não quer eleições para a liderança antes das autárquicas.
E a reboque de tão peregrina ideia, que deixaria o partido no limbo até Outubro, afirmou que o quer conduzido até à eleição do novo secretário-geral por esse génio que aterrou no Largo do Rato vindo com o anti-ciclone dos Açores e que, qual Gungunhana, se sentou na presidência do PS.
Se esta gente tivesse um pingo de vergonha devia ficar calada. Em vez de, após um resultado humilhante e que a muitos deles se deve, estarem já a querer condicionar o futuro e as decisões que os militantes, e em meu entender também os simpatizantes, deverão tomar.
Aliás, deviam juntar-se todos e a seguir, fazendo previamente um voto de clausura, alugavam uns autocarros e enfiavam-se todos num desses conventos abandonados, mais aquela rapaziada que veio da JS para dar cabo do partido, e ainda a comentadora Ana Gomes, que podia fazer de moderadora, para reflectirem sobre o passado.
E dali só sairiam quando o PS voltasse a obter uma maioria absoluta. Era remédio santo.
Terminado este ciclo, que culminou ontem com as eleições legislativas, importa dar público conhecimento do que em 18/12/2023, de relevante, referi numa comunicação dirigida ao Presidente do PS, Carlos César, logo após a escolha de Pedro Nuno Santos para liderar o partido:
"(...)
A forma demagoga e populista como a liderança tem sido exercida, o fechamento do Partido à sociedade, não obstante tudo o que em contrário foi sendo apregoado (longe vão os Estados Gerais), o horror e protelamento sucessivo das reformas de que o País e o Partido necessitavam, da eleitoral à de organização e de mentalidades, sempre para que meia-dúzia de indivíduos que não têm onde cair fossem sobrevivendo agarrados ao casco do navio, uns mesmo depois de serem amplamente derrotados nas urnas, outros após se retirarem da política activa, alguns com responsabilidades políticas, deputados, autarcas e ex-membros de governos e autarquias socialistas que se predispuseram a ir enganando os eleitores e [que] nem sequer se coibiram, quando caiu o governo de José Sócrates, de pedir emprego, quais Egas Moniz, a pessoas do Executivo de Passos Coelho, sendo depois de novo recuperados para posições de relevo e sinecuras políticas quando o vento mudou, revelam bem aquilo em que se tornou o PS.
O Partido é hoje uma montra do mais rafeiro populismo de esquerda, do oportunismo conjuntural, da falta de sentido de Estado – embora sejam sempre apontadas culpas a terceiros –, da ausência de humildade política, da sobranceria e arrogância discursiva, do carreirismo militante, da falta de integridade de muitos ao nível das funções de Estado. Enfim, uma verdadeira nave à deriva agora definitivamente entregue a um grupelho de moços e moçoilas que pouco fizeram na vida para além de nunca terem trabalhado e vivido no mundo real sem a rede do partido, sustentados como sempre foram à custa e a expensas do PS e dos cargos que lhes foram sendo atribuídos ao longo dos anos.
Para quem, ao longo de uma vida de trabalho, em que não fez outra coisa senão lutar contra as injustiças, empenhando-se, dentro e fora da profissão, contra toda a espécie de arbitrariedades, pugnando pela decência e a construção de uma sociedade mais equilibrada, mais justa, mais livre e mais responsável, sendo por estas razões, inclusivamente, também, alvo de um processo judicial movido pelo Ministério Público, ao tempo, na comarca de Albufeira, e que acabou com a absolvição do arguido, e com o representante daquela corporação a limitar-se a pedir justiça, transitando em julgado sem recurso, não obstante os custos pessoais, profissionais e processuais que acarretou, alguns suportados pela Ordem dos Advogados, é tempo de também dizer basta.
O PS mostrou preferir o progressivo afastamento da sociedade, à alternativa da sua aproximação, rejeitando eleições abertas para a escolha do Secretário-Geral, o que, estou certo, ainda que a alguma distância de 10 de Março de 2024, terá custos eleitorais pesadíssimos dos quais, dificilmente, alguma vez o Partido voltará a recuperar.
O Partido está cada vez mais velho, esclerosado, cansado. Fala para dentro, não está a cumprir a sua função de mediação entre o eleitorado, os simpatizantes e o poder político, desligou-se, entregando-se às camarilhas e às corporações, à casta dos eleitos do Secretariado, e o resultado está à vista.
Deu-se cabo de um ciclo único e de uma oportunidade histórica de reforma interna e nacional por manifesta inépcia, incapacidade, falta de liderança interna e com uma imagem externa profundamente desgastada, correndo atrás de epifenómenos e modismos, como se fosse essa a sua vocação, alinhando em perigosos jogos e alianças que o descaracterizaram e foram fragmentando ao longo do tempo.
Os críticos, os que pensam pela sua própria cabeça e sempre tiveram vontade própria foram sendo postergados, substituídos pelas habituais “yes-men”, filósofos de ocasião que saltam de cadeira em cadeira entre rádios e estúdios de televisão, apoiando sempre todas as lideranças, todos os candidatos, qualquer alternativa, e se revêem em todos os programas por mais díspares e contraditórios que sejam.
O que o PS fez de bom na governação, designadamente em matéria de Finanças Públicas, se resgatou uma parte do passado próximo, não ilude, neste momento, o muito mau que politicamente fomos aos olhos do País e o desastre que foi a gestão política do Governo, os “casos” TAP, EFACEC, Aeroporto, ou as “políticas” de Educação, Habitação, Saúde, Ambiente, Economia, Defesa, Agricultura, Justiça, Infraestruturas ou, até mesmo, em algumas áreas dos Negócios Estrangeiros, dada a fraquíssima prestação e os imbróglios sem justificação em que o actual titular “se foi enredando”. Neste caso, perdeu-se um bom diplomata para se ganhar um mau ministro em dose dupla.
Já não vivemos no tempo de Lassalle. Os militantes não têm de apoiar os novos oligarcas, ainda que netos de sapateiros e filhos com berço de oiro de empresários, nem se adequar às resoluções por eles tomadas, e confesso que hoje tenho muitas dúvidas em enquadrar, numa perspectiva teórica, o modelo de partido que temos. Não somos mais um partido de massas, nem um partido de integração social, à luz de Neumann, surgindo-me algumas dúvidas entre o catch-all party de Kirchheimer (“pilha-galinhas” diria o meu Prof. Farelo Lopes, na esteira de Panebianco) ou um simples partido eleitoral-burocrático de tendência cada vez mais populista.
Neste momento já nada disso importa. A descaracterização é total. Basta recordar o que disse o novo Secretário-Geral durante a sua campanha e no dia da sua vitória. Por isso mesmo, não tenho mais tempo, nem paciência, para continuar a assistir ao descalabro do PS, pelo que, antes de ver aumentar o rombo, decidi colocar um ponto final na militância activa. Não tenho qualquer interesse em prosseguir, nas actuais circunstâncias, à deriva numa nave cujo rumo e destino, a avaliar pela errância das declarações do novo Secretário-Geral, se prepara para acelerar no espaço sideral com toda tripulação aos trambolhões no seu interior.
Em rigor, seguindo aquilo que foi concedido ao falecido camarada Mário Soares, e também defendido pelo saudoso Pedro Baptista, para haver coerência e respeito pelo passado, dever-me-ia ser autorizada a suspensão da militância pelas instâncias próprias do Partido. Pois que se essa não existe prevista nos Estatutos, então também não poderia ter sido concedida ao primeiro e invocada pelo segundo, com toda a propriedade, quando se afastou.
Não sendo tal possível, e rejeitando a aplicação de qualquer regulamento de excepção, ou que no Largo do Rato “fechem os olhos”, muito menos por favor, afastar-me-ei a partir deste momento de toda a militância.
Finalmente, permitir-me-á que lhe faça, com todo o respeito, uma crítica: considero que o camarada Carlos César, Presidente do Partido Socialista, não esteve à altura das suas funções quando decidiu, publicamente, numa rede social, manifestar o seu apoio à candidatura do camarada Pedro Nuno Santos. Com isso, violou o disposto no art.º 51.º, n.º 3 dos Estatutos que impõe ao Presidente o empenho sua “magistratura moral na defesa da unidade e coesão do Partido”, contribuindo para uma maior divisão interna, aliás logo confirmada no discurso inaugural do vencedor. Ao dizer que Pedro Nuno Santos estava “mais perto da interpretação autêntica do percurso de Costa” e que José Luís Carneiro estava“sitiado pela euforia apologética da maioria do comentariado e dos dirigentes da direita portuguesa” – vd. igualmente Público, Ana Sá Lopes, 07/12//2023 – só mostrou o quão baixo politicamente desceu o Presidente do PS, colocando-se numa posição em que nunca se deveria ter colocado perante os militantes do Partido, um candidato à liderança e ainda ministro do PS, e perante os eleitores. Pior era difícil. Um desastre."
A isto respondeu Carlos César dizendo que "não obstante discordar do seu conteúdo, reconheço que fez muito bem em afastar-se de um partido com o qual em nada parece concordar". Depois arrependeu-se e disse lamentar a saída, mas eu já tinha sido abatido aos cadernos.
Passaram apenas 18 meses. Tudo o que ficou registado é passado. Eu continuei a minha vida, como sempre, vida de homem livre.
Paz à sua alma.
(créditos: Rádio Renascença/Homem de Gouveia/LUSA)
O Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo não deixa a mais pequena margem para qualquer dúvida.
O modo como foi conduzido o caso dos militares que estavam em serviço no NRP Mondego, pelo então Chefe do Estado-Maior da Armada, hoje pré-candidato e – se as sondagens estiverem certas e não surgir um candidato decente da sociedade civil – futuro Presidente da República, Henrique Gouveia e Melo, com uma inacreditável sucessão de atropelos à legalidade, a múltipla violação de direitos fundamentais dos arguidos, o desrespeito por normas de cariz constitucional, numa questão que, em bom rigor, numa perspectiva jurídica, era de lana caprina, e a defesa que de todos esses atropelos se fez "com unhas e dentes" não augura nada de bom para o sossego dos portugueses e a garantia de futuro bom desempenho do mandato presidencial.
Os vícios procedimentais, a que o senhor almirante deu acolhimento enquanto Chefe do Estado-Maior da Armada, são tantos e tão graves que os senhores juízes concluíram escrevendo que "[a] nulidade da decisão sancionatória disciplinar por vícios do procedimento, obsta à apreciação e qualificação do comportamento dos militares da Marinha descrito nos autos e à (in)validade da subsunção normativa que lhe será inerente, bem como, consequentemente, prejudica a aferição da legalidade substancial das sanções aplicadas".
Uma perfeita borrada, não tenhamos medo da contundência de algumas palavras, imprópria de um Estado de direito, que alguns iludidos, outros desvirtuados e espúrios interesses, se preparam para apoiar fechando os olhos a tudo o mais.
Nem todos os que dizem viver com Deus no dia a dia chegam a santos. E alguns não são nada recomendáveis, em especial se se apresentarem de avental a rigor.
Vale por isso a pena ler na íntegra o acórdão do STA, de 30/04/2025, proferido no Processo 0121/24.4BCLSB, cuja ligação aqui fica.
Pelo menos ficamos todos a saber com o que iremos contar e não haverá razão para depois se queixarem das escolhas que fizerem.
Posso ter simpatia por uma pessoa, até ver nela uma pessoa cordata, educada, discreta, competente para muitas funções.
Porém, para se ser Presidente da República, num Estado de direito democrático, não basta não ser corrupto, e dizer meia-dúzia de banalidades para a populaça, ter boa apresentação e saber alinhar a tropa na parada. Para os discursos ou as vacinas. Convém, e não apenas, interiorizar os valores constitucionais, legais e políticos e ser capaz de respeitá-los sempre, em todos e quaisquer momentos.
Ainda mais quando se é militar, se exercem as mais altas funções de comando e se tem de ser um exemplo para os outros perante circunstâncias adversas.
É nestas, aparentemente pequenas, coisas, e não valerá a pena por agora falar de outras, mas que contendem com a vida de todos, que se distinguem os grandes líderes e se vê quem não serve para determinadas funções, independentemente das escolhas serem livres e do veredicto popular ter de ser sempre respeitado.
No erro também há que ter humildade. E assumir que se errou para se poder avançar. E sobre isto ainda não ouvi do senhor almirante uma única palavra.
Nota: O que aqui fica não quer dizer que qualquer um dos outros candidatos, conhecidos ou que andam a ameaçar vir a sê-lo, atirando moedas ao ar, mereça o mais pequeno crédito, ou benefício da dúvida, para a função. São todos demasiado maus para que se possa, sequer, imaginá-los em Belém.
Nota 2: Confirma-se. Mais um naufrágio a caminho, tal como aqui referido.
O Luís Almeida Pinto já tinha chamado a atenção para o facto das moradas dos eleitores portugueses residentes no estrangeiro serem disponibilizadas aos partidos políticos, para efeitos de campanha eleitoral, nos termos da lei.
Com efeito, o art.º 54.º da Lei 14/79, n.º 4, dispõe que "[p]ara os efeitos da realização da campanha pela via postal, os partidos políticos e coligações podem obter, junto do Ministério da Administração Interna, cópia dos cadernos eleitorais dos eleitores residentes no estrangeiro em suporte digital".
Ou seja, o Ministério da Administração Interna, neste caso dirigido por uma pessoa do Governo da AD, a conhecida Margarida "Fiasco" Blasco, é que disponibiliza, através da respectiva Secretaria Geral, as moradas dos eleitores.
Em Macau, os primeiros panfletos de campanha chegaram por via do PS, há mais de duas semanas.
Muitos residentes se indignaram então porque consideraram um abuso essa disponibilização de dados, convencidos de que se trataria, imagine-se, de uma acção concertada com elementos ao serviço do Estado português na RAEM. Teorias da conspiração não faltam.
Pois agora esses indignados terão não apenas uma, mas duas boas razões para se voltarem a indignar.
A primeira pelo facto do PSD ter repetido a graça do PS. Se foi um abuso antes, continua a ser.
A segunda porque estando nós, praticamente, a apenas uns dias do final da campanha eleitoral, havendo quem ainda não tenha sequer recebido a documentação para poder votar, e com os CTT a demorarem três semanas, em média, o mais provável é que os votos não cheguem a Lisboa a tempo de poderem ser contabilizados e a acção de propaganda que agora chegou às caixas de correio dos eleitores não sirva para nada. Puro desperdício pago pelos contribuintes.
Sem a comendadora Rita Santos em campo, a arregimentar e cacicar os votos, o mínimo que se poderá dizer é que o PSD, Montenegro e Cesário até nisto se revelaram profundamente incompetentes. Indignem-se pois. Por ali, com esta eficiência, Portugal continuará parado.
Ao rever as edições do Boletim Oficial das últimas semanas verifiquei que foi publicado no n.º 18, II Série, de 30/04/2025, a pág.ªs 57 e 58, o calendário dos feriados, tolerâncias de ponto e dias de descanso compensatório “dos trabalhadores da Administração Pública para o ano de 2026”.
Dos dias aí referidos como feriados fixados pela Ordem Executiva n.º 60/2000, no total de 20, apenas 10, ou seja metade, são aplicáveis ao sector privado.
Das tolerâncias de ponto e dias de descanso compensatório, no total de 8 dias, nenhum é aplicado ao sector privado.
Isto quer dizer que os funcionários públicos, que, em regra, ganham melhor do que no sector privado, e têm, por comparação com aqueles, pelo menos o dobro ou triplo dos dias de férias do sector privado, onde só 6 dias úteis de férias são obrigatórios (cfr. art.ºs 44.º e 46.º da Lei 7/2008, republicada por Despacho do Chefe do Executivo n.º 134/2020 (B.O. n.º 25, de 22/06/2020), estão numa situação que não tem paralelo, nem correspondência, com o que se passa com a generalidade dos trabalhadores residentes e não-residentes. Nem com o que se verifica na China, em Hong Kong, ou em qualquer país capitalista onde os trabalhadores não sejam tratados em regime de semi-esclavagismo.
Apesar de no sector privado não ser preciso (ainda), prestar juramento de fidelidade, indiferentemente da nacionalidade, por razões de segurança nacional, espero que o Chefe do Executivo, que disse não ser insensível a esta profunda discriminação, mesmo entre residentes, considere prioritária a revisão das leis laborais, para que no próximo ano não se repita este filme.
Não se trata de retirar direitos a ninguém, mas de alargá-los a quem tanto contribui com o seu trabalho no sector privado para o bem-estar de todos e o enriquecimento da RAEM, conferindo igual dignidade a quem trabalha. Todos têm família e igual direito ao descanso.
Ademais de que muitos dos que trabalham no sector privado também são católicos, budistas e de outros credos, havendo quem goste de celebrar o Dia de Buda, como todos os outros, de ir à igreja na Sexta-Feira Santa, de festejar o Barco Dragão, o Dia de Finados, o da Imaculada Conceição, o Solstício de Inverno, e também de usufruírem da Véspera de Natal e do Dia de Natal, não se justificando que tenham de trabalhar nesses dias e nos outros todos em que a função pública, os bancos – nem sempre – e a AMCM descansam porque estão a compensar dias feriados que caíram em sábados e domingos. Compensar de quê se nesses dias já não trabalharam?
Caravaggio, 1594, I bari (Os trapaceiros)
O resultado da sondagem do Barómetro DN/Aximage não engana. E mostra a consistência do juízo que os portugueses fazem dos seus dirigentes políticos. "[N]ão há um líder partidário com saldo positivo".
Estão ali, em São Bento ou na Gomes Teixeira, como podiam estar ao balcão de um banco, a receber formulários numa repartição qualquer, a tirar cafés ou a servir imperiais na tasca do pai.
São consistentemente maus aos olhos dos seus concidadãos para as funções que querem desempenhar. Mas estão convencidos de que nasceram para aquilo. Até tratarem da vidinha.
Incapazes de melhorarem a sua imagem, de apresentarem desempenhos decentes ou de suscitarem algum aplauso.
Os seus discursos vão permanentemente do irado ao monocórdico. São repetitivos, repletos de banalidades, desligados da realidade e das verdadeiras preocupações dos portugueses, recheados de frases feitas e lugares-comuns.
A grande pobreza vocabular das suas intervenções, o nível da linguagem, espelham a sua insuficiência formativa, o afastamento da realidade nacional, a falta de talento para a direcção política, a total ausência de carisma e de capacidade mobilizadora.
Nunca políticos carreiristas, semi-ignorantes, cábulas e com espírito de funcionário poderão alguma vez mobilizar um país, erguê-lo da mediocridade em que medra de eleição em eleição.
Ainda que a população fosse exclusivamente composta por bimbos com "sonhos de menino", o desencanto seria sempre o mesmo.
E isto já não é sina. É uma escolha consciente.
Porque até as crianças se recusam a nascer. E mesmo os mais capazes se conformam para não terem chatices e não se incompatibilizarem com os vizinhos.
Assim vamos seguindo, sem chama, sem apelo, sem horizonte, empurrando com a barriga, escovando os fatos, mudando a naftalina, seguindo atrás de uma elite de moribundos alegres.
Tivéssemos nós um Rimbaud e teria desertado para Java. Como um foi para a Índia e o outro para Macau. Para não terem de nos aturar.
Cumprem obrigações como quem vai à missa dominical, virando as folhas do calendário, celebrando os aniversários, respeitando veneradamente as efemérides, sabendo que a seguir à Primavera virá o Verão, depois o Outono, antes de chegar o Inverno, enquanto se ensaia a ladainha seguinte e se cumpre a promessa ao longo da berma das estradas.
E no final dar-se-á a volta para que tudo se repita de novo. Com os mesmos e nos mesmos dias para que não se perturbe a paz dos mortos e a conformação dos vivos.
Venha então de lá o Dez de Junho.
(créditos: daqui)
Gostava de futebol, apreciou a beleza feminina, namorou, sabia saborear um bom vinho. Depois escolheu o seu caminho.
Atingiu o pináculo do poder terreno da sua tribo no trono de São Pedro. Dispensou os múleos papais vermelhos da Prada, não usava óculos Gucci, e viveu uma dúzia de anos no quarto 201 da Casa Santa Marta.
Encarou os erros, procurou corrigir, pediu desculpa quando importava fazê-lo. Não perdeu a face.
Sorria, ria com gosto, tinha sentido de humor.
Trabalhar, rezar, cumprir as suas obrigações, cuidar da sua gente, pensar nos outros, estender-lhes a mão, ajudar quem precisava a levantar-se, mantendo a postura, a dignidade, o carácter, a autenticidade, a humildade, o amor até ao fim.
Fé é isto.
Gostava de ter esperança. De ter fé. Por eles – fiéis, infiéis e os outros –, também por mim.
Não sei se alguma vez haverá outro como ele. Mas seria bom.
(créditos: daqui)
Houve quem viesse criticar, quem se insurgisse, contra o facto das cerimónias do 25 de Abril – “agenda festiva”, escreveu-se –, tivesse sido "cancelada". Esta expressão surgiu em toda a comunicação social a que tive acesso após as declarações do ministro Leitão Amaro. João Gonçalves recomendou que “as vestais do “Estado laico” e do “fascismo nunca mais” fossem ler a legislação que define o luto nacional e as restrições que implica.
Eu, que não sou uma vestal do Estado laico, não emprenho pelos ouvidos nem participo em manifestações delirantes, tirando as que ocorrem de tempos a tempos no Estádio do Sport Lisboa e Benfica, onde mantenho – penso – sempre a distância e o bom senso –, pois que nem em pequenino gostava de “ajavardar”, fosse na linguagem ou nos actos – verifiquei a legislação e lá não encontrei nada que obrigasse ao cancelamento das “festividades”. Abrilistas ou outras.
O Governo veio depois "esclarecer" – não há nada que fique esclarecido à primeira – que afinal não havia cancelamento. Apenas um adiamento dos "momentos festivos".
Cada vez estou mais longe, graças a Deus, de algumas das preocupações dos meus compatriotas. E como não alinho em arraiais, e também não deverei conseguir votar nas próxima eleições – porque na CNE não sabem ler a lei e encerraram mais cedo do que o devido a actualização dos cadernos, impedindo-me de votar presencialmente, sendo que até hoje também ainda não chegou sobrescrito com a documentação para poder votar –, tive o cuidado de verificar o que se irá fazer em Itália, cujo Dia da Libertação cai exactamente a 25 de Abril. Este ano comemorar-se-á o 80.º aniversário da Libertação.
Pois bem, tanto quanto numa pesquisa rápida me apercebi, as mais altas figuras do Estado italiano, e todo o país comunal, não deixarão de celebrar, leia-se festejar, o Dia 25 de Abril, dia da libertação do nazifascismo, embora com um programa "aligeirado" quanto às principais figuras do Estado.
Na verdade, nesse dia, o Presidente Sergio Matarella e a Presidente do Conselho, Giorgia Meloni, estarão ambos em Roma, no Altare della Patria, na piazza Venezia, onde depositarão uma coroa de flores. Depois, Matarella, ainda convalescente após alguns problemas de saúde, seguirá para Génova, onde decorrerão as comemorações oficiais. Aí almoçará, regressando mais cedo a Roma para receber os dignitários estrangeiros que começarão a chegar para as exéquias fúnebres do Santo Padre.
As cerimónias oficiais devido ao luto oficial serão “aligeiradas” – "hanno spinto il Quirinale a sfoltire le voci in agenda", escreveu o la Repubblica, isto é, salvo melhor tradução, a "reduzir os pontos da ordem do dia" –, o que é bem diferente de cancelamento ou adiamento, embora por todo o país, todas as comunas italianas, incluindo Roma, e com excepção, creio, apenas de Ponte San Nicoló, no Veneto, que cancelou todas as cerimónias, de Norte a Sul, não se deixará de festejar, sublinho, festejar, celebrar, comemorar, o 25 de Abril.
Estou certo de que em Itália, onde o luto declarado foi de 6 dias, haveria muito mais razões, até pela proximidade ao Vaticano, para pura e simplesmente se anunciar o cancelamento ou o adiamento dos eventos oficiais. Não foi isso que aconteceu. E Meloni pode ter muitos defeitos, mas seguramente que não é de esquerda, menos ainda da esquerda radical. E também não é parva.
O Governo errante de Montenegro, se estava à espera do Conselho de Ministros, poderia ter enveredado pelo luto oficial a partir do próprio dia 26 de Abril – dia do funeral do Papa Francisco, em que talvez fizesse mais sentido iniciar o luto –, de maneira a não contender com o 25 de Abril. Não o quis fazer por mero tacticismo político, criando mais um motivo de discórdia e polémica em período pré-eleitoral. Aliás, bastaria observar o tom e o modo das declarações de Leitão Amaro para se perceber como a agenda e o estilo do “trumpismo” tomaram conta deste rebanho de ignaros e pastores sem mundo que, à direita hoje, à esquerda ontem ou amanhã, manda em Portugal. Governar é só para quem sabe.
E isto, refiro-me ao luto, não tem nada a ver com o facto de o Estado português ser por natureza laico, independentemente de o catolicismo ser a religião predominante no país e entrar pela nossa carne, de portugueses e ainda mesmo naqueles que se reconhecem como ateus, e só parar no tutano. Em causa está o respeito pelo falecimento de um Chefe de Estado de um país estrangeiro com o qual Portugal e os portugueses têm relações diplomáticas e de amizade há séculos. É válido para o defunto ou para outro qualquer.
Francesco, Francisco, Francis, qualquer que seja a língua em que pronunciem o seu nome foi um homem que marcou o seu tempo. Dentro e fora da Igreja. E não foi pelas más razões.
Pela sua bondade, pelo seu carácter, pela sua generosidade, por tudo aquilo que nos trouxe, a católicos, ateus, agnósticos, gente de outros credos, na recuperação de valores do humanismo cristão, na lealdade ao próximo e na entrega aos outros, no exemplo, no desprendimento, na genuinidade e lhaneza de carácter, na sua autenticidade de dimensão universal, usando a palavra e o credo como factor de união, e não de criação de conflitos, protegendo quem tem de ser protegido, procurando lavar e desinfectar o chão da sua Igreja, livrando-a de escaravelhos e delinquentes, criticando os dogmas, a estupidez, a imbecilidade e a criminalidade instalada, recebendo todos no seu seio, fazendo diferente até na hora da sua partida, mostrando ser capaz de com toda a lucidez voltar a escolher a sobriedade, a discrição, a herança e o recolhimento de Santa Maria Maggiore, não merecia que este fosse mais um momento de profundo atavismo moral dos matumbos que governam o nosso país.
Nunca, nos tempos mais recentes, se diria com mais propriedade que quiseram ser, e mostrar que são, "mais papistas do que o papa”.
Os Pauliteiros de Miranda virão a 1 de Maio. Os novos trauliteiros já estão em Lisboa.
P.S. Estou fora. Não me revejo nestes broncos, nem nos antecessores. E aqui, onde 25 de Abril não é feriado, a não ser na minha alma e no Consulado de Portugal e conexos, embora se celebre, muitos choram a perda de Francisco. Mas estou exausto, cansado, farto de tanta estupidez, de tanta discussão estéril, de tanto conflito inútil que me chega da Pátria. Na Igreja de Francisco havia lugar para todos. No Portugal de hoje, onde não se distingue o escrutínio da difamação, só há lugar para os sonsos, para os labregos, para os chicos espertos, para estas abencerragens, sejam eles quem for, que se revezam na ocupação da cadeira do poder, enquanto esperam que os governados, os lorpas, lhes ofereçam os votos e os aplausos, e veneradamente lhes dêem lustro aos sapatos “marron clarinho”.
Há uns dias tive oportunidade de fazer uma visita ao Museu de História de Hong Kong. No programa estava mais uma exposição da série “Multifaceted Hong Kong” com o título “Estórias Lusas – Stories of the Hong Kong Portuguese”. E que estórias.
O meu amigo e saudoso Luís Sá, que ficará sempre entre os melhores, os mais sérios e os mais competentes que por estas terras passaram, e que deixou obra publicada, já nos tinha legado o magnífico “The Boys from Macau – Portugueses em Hong Kong”, pelo que foi com bastante curiosidade, aumentada com a passagem que por lá fez há umas semanas, na sua viagem de propaganda eleitoral, o cantinflas que faz de ministro dos Negócios Estrangeiros, que me predispus a programar a visita.
Em boa hora o fiz. Trata-se de um trabalho cuidado e que merece bem o tempo que lhe puder ser destinado.
Começando por um pequeno vídeo colocado à entrada, que traça o percurso dos portugueses desde que iniciaram a epopeia das Descobertas, com Ceuta à cabeça, em 1415, descendo ao longo da costa de África, até à chegada à Índia, e daí ao delta do Rio das Pérolas, a exposição inclui inúmeros elementos didácticos, fotografias, reprodução de documentos, réplicas, mobiliário, dando-nos a conhecer os rostos, as famílias e os percursos de alguns dos mais notáveis lusos, muitos constituindo já fruto da miscigenação cultural, ali deixando prolífica descendência, mas que jamais ocultaram, sempre se orgulhando dessa condição de portugueses e de luso-descendentes, honrando e dignificando a sua memória, muitas vezes em contextos de hostilidade, como aconteceu no período da ocupação japonesa durante a II Grande Guerra.
Achei curioso, sendo a exposição preparada por chineses, num período pós-colonial, em que para se poder lá chegar é preciso, primeiro, passar por uma outra mostra dedicada à Segurança Nacional e aos valores patrióticos do país anfitrião, que no vídeo inicial e nas imagens projectadas não faltassem sequer os painéis de São Vicente, o Infante D. Henrique, Vasco da Gama e Afonso de Albuquerque, contrariando-se assim algumas narrativas imbecis que confundem a obra e a época histórica com as leituras feitas à luz dos dias de hoje por alguns ignorantes para quem tudo o que constitui herança colonial é mau, sendo incapazes de separar o trigo do joio, o muito mau e o péssimo daquilo que não nos envergonha como povo e como nação aberta ao mundo e que em qualquer latitude sabe respeitar e fazer-se respeitar para ser respeitada.
Na sua esmagadora maioria foram portugueses de Macau os primeiros etnicamente não-chineses, o que ali é sublinhado, que se fixaram em Hong Kong. Proficientes em inglês e cantonense já na antiga colónia portuguesa eram contratados por empresas inglesas, ainda antes de se virem a fixar em Hong Kong, por serem fluentes na língua, para desempenharem funções como tradutores e intérpretes, e por se afirmarem como conhecedores profundos da cultura e dos costumes chineses.
Em Hong Kong ocuparam posições relevantes, embora sem nunca poderem ascender a lugares de chefia na administração colonial britânica, sobretudo a partir de finais do século XIX, bem como no comércio e na indústria, destacando-se quanto a esta última a sua herança nas artes gráficas, onde dirigiram importantes casas editoriais e chegaram a dominar o sector, caso das famílias Noronha e Xavier.
A presença de portugueses na área jurídica foi desde sempre importante. As linhagens dos Remédios e os D’Almada Castro – Francisco Xavier D’Almada e Castro, Leonardo D’Almada e Castro Sr., Leonardo D’Almada e Castro Jr. e Christopher D’Almada e Castro – como mais recentemente Ruy Barreto, também com direito a uma fotografia, ou Albert T. da Rosa Jr., actualmente, deixaram nome e história no foro local. Leonardo D’Almada e Castro Jr. ocuparia aos 33 anos um lugar no Legislative Council, antes pertenç de J. P. Braga, vindo a tornar-se no primeiro português a integrar o Conselho Executivo. Em 1953 ser-lhe-ia atribuído o título de “Commander of the Most Excellent Order of the British Empire” (CBE).
Outros portugueses sobressaíram na arquitectura, estando na génese do chamado “Garden City Movement”, como sucedeu com Francisco Paulo de Vasconcelos Soares, ou projectando casas em Ho Man Tin e na área residencial de Kadoorie Hill, como foi o caso de José Pedro Braga, por volta de 1931. Este último também jornalista e editor, se bem recordo, foi, aliás, o primeiro português do Conselho Legislativo de Hong Kong, em 1929, tornando-se em 1935 no primeiro português local a receber o título de “Officer of the Most Excellent Order of the British Empire” (OBE).
Mas também nas artes, os lusos e seus descendentes gravaram o seu nome na história local através das pinturas de Marciano António Baptista Sr., aluno do famoso George Chinnery, de seu filho com o mesmo nome e Jr. no final, de “Naneli” Baptista e de Alfonso Orlando Barreto, e nas emissões radiofónicas do lendário “Uncle Rey”, que entrevistou os Beatles quando estes passaram por Hong Kong, ou nas músicas popularizadas pelos “The Mistycs” e Joe Junior a partir da década de 60 do século passado.
Instituições contemporâneas como a Escola Camões – fundada em 1947 –, que a partir de determinada altura cresceu graças aos alunos chineses e de origem indiana que a frequentaram, acabando em 1996, antes da transferência de soberania de Hong Kong para a RPC, por ser confiada pela Portuguese Community Education and Welfare Foundation à Escola Po Leung Kuk, que lhe mudou o nome, relocalizou-a e adaptou-a aos programas curriculares locais, ou o Clube Lusitano não foram esquecidos.
Merecem, igualmente, destaque todos os portugueses que integraram o Hong Kong Volunteers Defence Corps, a partir de 1854, e os que com a ocupação japonesa se alistaram, a partir de Dezembro de 1941, para a defesa da cidade.
Muitos foram feitos prisioneiros, torturados e morreram às mãos do invasor, mas como aí se diz nunca perderam a esperança e espalharam optimismo junto dos outros prisioneiros para lhes elevarem o moral.
Na retaguarda, atrás das linhas inimigas, foram fundamentais para o trabalho dos serviços secretos, na passagem de informações, homens como Eduardo Liberato Gosano e, mais tarde elevado à categoria de “Sir”, Rogério Hyndman Lobo (Roger Lobo), havendo alguns que no pós-Guerra, depois do final da ocupação japonesa, integrariam os tribunais militares.
Incontornável é o nome de Arnaldo de Oliveira Sales, homem de negócios que em 1957 foi nomeado para o Urban Council, onde se tornou no seu Unofficial Chairman, depois conhecido como “Mayor of Hong Kong”, servindo a instituição até 1981. O reconhecimento pela excelência do seu trabalho é ainda hoje visível em muitos locais da cidade.
Sales foi um dos homens mais influentes do desporto de Hong Kong e asiático, chegando a liderar até ao final do século XX o seu Comité Olímpico, e sendo presidente da Commonwealth Games Federation, da Asian Games Federation (AGF) e do Comité Olímpico da Ásia (OCA). Quando faleceu, o South China Morning Post disse dele ser o “Pai do Desporto de Hong Kong”.
Presentes estão ainda as ligações a Macau, com fotografias e uma velha bandeira com as armas da cidade e do Leal Senado, e a culinária de raízes portuguesas, onde não falta um vídeo com a falecida D. Aida de Jesus e a sua filha Sónia Palmer.
Nota final neste brevíssimo apontamento para um espaço dedicado ao relevante papel dos portugueses nas famosas corridas de cavalos – em 1863 foi criada a Lusitano Cup – e à figura e aos troféus dessa lenda chamada Tony Cruz, jockey filho de outro jockey.
Considerado o maior representante do desporto português em Hong Kong, coleccionou o número espantoso de 946 vitórias. Desde 2016, com a criação de um troféu anual, o Hong Kong Jockey Club homenageia-o. O Tony Cruz Award destina-se a premiar o jockey com mais vitórias numa temporada. Como treinador do Silent Witness, Tony Cruz conquistou 17 vitórias consecutivas. Na temporada de 2010/2011 venceu 72 corridas com o Beauty Flash, que só em apostas rendeu quase 80 milhões de HK dólares. Um palmarés rico e impressionante.
E mais não vos digo. Os que puderem, e que se aventurarem por estas paragens, que não deixem de passar pelo Museu de História de Hong Kong enquanto lá estiver esta exposição.
Como português, quando de lá saí, não pude deixar de me sentir agradecido, esmagado, comovido, e ao mesmo tempo satisfeito e honrado por poder fazer parte desta gente simples, trabalhadora, corajosa, para muitos incógnita, que tanto engrandeceu, e continua a honrar, tão longe e quase sempre sem quaisquer apoios, o nome de Portugal.
Século após século. Contra ventos e marés.
E, o que é mais espantoso, não obstante a gritante mediocridade, ignorância, falta de sentido ético, político e de Estado da tropa trauliteira que tomou conta dos partidos e das suas instituições e que nas últimas décadas nos (des)governa e diariamente nos envergonha.
Numa interessante entrevista à TDM, o presidente da Federação de Indústria e Comércio, Lei Chok Kuan, veio dizer-nos que "há cada vez mais pessoas a consumir do lado Norte da fronteira e que isso é um problema para Macau", referindo que "a disparidade de preços é enorme" e que o Governo devia investigar quais as causas que levam a tão grandes diferenças.
O entrevistado não se ficou por ali; e na extensa e detalhada entrevista que concedeu enfatizou que "o consumo total foi de 75,6 mil de milhões de patacas, o que representa uma diminuição de 15 % em relação a 2023", no que constitui, apesar do considerável aumento do número de pseudo-turistas, uma quebra de receita de "mais de 10 mil milhões de patacas".
O Sr. Lei, do alto dos seus 70 anos, com a sua experiência de vida, um mestrado em Economia e empresas nas áreas da restauração e joalharia, sabe do que fala. Não é por se baterem recordes na entrada de "visitantes" e se esgotarem as tripas nalgumas tabancas que alguma coisa vai melhorar. A estatística só por si não traz qualquer benefício à cidade, nem tem algum interesse para a maioria dos residentes, chegando a ser ridículas e deprimentes as aberturas de noticiários radiofónicos e de telejornais consecutivos com referências aos números de entradas e saídas pelos postos fronteiriços.
A entrevista tem pano para mangas e contém menção a todo um conjunto de problemas que há mais de uma década exigem resposta, sem que os crânios que estiveram em funções até há bem pouco tempo se tivessem apercebido do mal que estavam a fazer à RAEM.
A "batata quente" ficou para Sam Hou Fai que está confrontado com uma série de situações acumuladas, que causaram um sério agravamento das condições económica e sociais, devido à profunda incompetência, nalguns casos, noutros à simples ignorância e má vontade, de quem exercia o poder e controlava as decisões, sempre com continuidade mimética nos subalternos.
Alguns, inexplicavelmente, ou talvez não, por castigo ou vontade de lhes ser dada uma segunda oportunidade, ainda continuam a fazer o que sempre fizeram, criando entraves e problemas sem justificação – verifique-se o que se passa com a acção de alguns senhores nas conservatórias – pelo que nem o Sr. Lei, nem ninguém, irão ver quaisquer melhorias. As perguntas continuarão.
O único que parece ter capacidade e vontade de lhes dar resposta é o Chefe do Executivo, cuja herança não lhe invejo, mas que deverá estar sempre atento e vigilante aos escolhos que se lhe irão erguer pelo caminho.
A resistência à mudança, o medo da inovação, ou o receio de nadar fora de pé são comportamentos recorrentes, enraizados e de difícil afastamento, em especial em contextos cacicais, de ignorância paroquial e vontade de não destoar da carneirada.
Acho muito bem que se questione a razão para as diferenças de preços entre Macau e Zhuhai, embora haja uma que me pareça óbvia e que resulta da falta de intervenção do Governo no mercado da especulação imobiliária, para além da absurda inoperância nos últimos anos do Conselho de Consumidores.
As disparidades de preços são notórias e nalguns materiais, produtos e equipamentos inexplicáveis, sabendo-se que muitos dos aqui se adquirem e são imprescindíveis à RAEM vêm exactamente do Interior do país. O custo da produção e do frete não pode ser superior ao que resulta da importação de produtos que vêm da Europa, de outros países da região Ásia-Pacífico ou até mesmo de Taiwan.
É preciso acabar com a protecção rentista de algumas famílias e dos senhorios sentados na Assembleia Legislativa, pois que sem isso não haverá verdadeiro mercado habitacional ou comercial que permita a introdução de um clima de estabilidade às famílias e/ou às pequenas e médias empresas que assegurem condições para o seu desenvolvimento equilibrado num ambiente de justiça e de onde resultem benefícios sociais para todos.
A preocupação do Sr. Lei com o destino do pessoal dos casinos-satélites é compreensível. Os das associações do sector e de alguns deputados próximos dos sectores tradicionais igualmente. A decisão do seu fim é uma opção política inquestionável e que não poderá ter continuidade sob pena de se voltar a "empurrar o problema com a barriga", tal como antes aconteceu com o Macau Jockey Club, cujo penoso fim só deixou ficar mal o Governo da RAEM, único que tinha uma imagem a proteger.
Macau tem de voltar a ser uma região onde se possa investir com segurança e estabilidade, com qualidade de vida e preços acessíveis à generalidade da sua população, dispondo de uma oferta habitacional, cultural, de entretenimento e educativa de nível internacional, com serviços de saúde, de transporte – não se vêem melhorias no serviço de táxis – e de justiça decentes para todos, cobrindo residentes, não-residentes e simples "blue cards", com produtos e serviços que sirvam os seus moradores, recebendo um turismo civilizado e qualificado, oferecendo incentivos a empresários sérios, com visão de médio e longo prazo, que criem emprego, riqueza, tragam inovação e não andem sempre a pedinchar subsídios e apoios enquanto enriquecem rápida e desmesuradamente ao mesmo tempo que enganam os consumidores.
Alguma coisa, entretanto, começou a mudar. As preocupações manifestadas por quem manda e as recentes iniciativas do IAM, cuja actividade é de novo visível no cuidado com os espaços verdes, e reconhecendo publicamente a necessidade de se melhorar o controlo de pragas, eliminar ratos, baratas e mosquitos, e elevar o nível da higiene urbana, são bons sinais. Mas muito mais será preciso fazer em diversas áreas da actividade governativa.
Os dados recentemente revelados sobre o aumento, em vez da diminuição, do grau de dependência do jogo, mostrando que este atingiu um valor superior a 86%, quando em Janeiro de 2024 o peso dos casinos nas receitas da RAEM era de 70% (vd. Ponto Final, 12/03/2025, pág.ª 7), revela bem o rotundo fracasso das políticas seguidas, que têm de ser questionadas e de ter responsáveis.
Enquanto isto não acontecer será imprescindível que muitos Sr. Lei façam perguntas, em chinês, para que chegue aos ouvidos de quem manda sem necessidade de tradução. E que jamais tenham medo de perguntar e apontar caminhos.
De outro modo continuarão a medrar a inoperância, o conformismo, as más práticas, o desprezo pela comunidade, o ar insalubre e o nevoeiro. Ninguém quer isso.
Com uma vida dedicada à indústria do jogo, depois de ter passado por Las Vegas e se ter fixado em Macau, onde viveu duas décadas, acompanhando o boom que rejuvenesceu o jogo a partir de 2005, enquanto administrador do Grupo Neptuno e, a partir de 2017, da Rich Goldman Holdings Limited, faleceu no passado dia 26 Março, em Ho Chi Minh, antiga Saigão, o carismático Nick Niglio.
Durante anos a fio foi um grande animador e anfitrião das noites do desaparecido Lion’s Bar. Não houve quem não passasse pela sua mesa, não bebesse um Macallan e não fumasse um charuto, no tempo em que ainda não tinha chegado a “revolução securitária”, não era “crime” fazê-lo num bar e as noites, a música e a boa disposição pareciam não ter fim.
Ontem, ali ao lado, no ABA Bar do MGM Macau, numa iniciativa de Andrew Scott, alguns amigos promoveram uma homenagem simples, mas plena de significado, em sua memória.
O Nick certamente que a teria apreciado.
Que descanse em paz.
With a life dedicated to the gambling industry, after spending two decades in Las Vegas and settling in Macau, following the boom that rejuvenated the industry from 2005 onwards, as a director of the Neptuno Group and, from 2017, of Rich Goldman Holdings Limited, the charismatic Nick Niglio passed away on 26 March in Ho Chi Minh City, formerly Saigon.
For years he was a great entertainer and host of the nights at the now-defunct Lion's Bar. There wasn't a person who didn't pass by his table, drink a Macallan or smoke a cigar - in the days when the ‘security revolution’ hadn't yet arrived, it wasn't a ‘crime’ to do so in a bar and the nights, the music and the good humour seemed endless.
Yesterday, next door, in the ABA Bar at the MGM Macau, on an initiative by Andrew Scott, some friends organised a simple but meaningful tribute in his memory.
Nick would certainly have appreciated it.
May he rest in peace.